Nada como um título pândego para falar de um festival que por si só já é risível.
Senhores, bem-vindos ao universo do 1º FETSA - Festival de Teatro Santo Agostinho.
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28/06 - Segunda-feira
NARRADOR - E vamos contar a história de uma rainha que se chamava Psi..Psi..Psi...o quê?
CORO - Psiquê!!!!(*)
(*) Por CORO, entenda-se um grupo de quatro garotas, vestidas em túnicas de TNT preto arrastando no chão e que por isso mesmo precisavam ser erguidas com as mãos a cada passo que elas tentavam dar, gritando com suas vozes absurdamente agudas num jogralzinho digno de Homenagem da Pré-Escola no Dia das Mães.
Alguém esperava algo além de uma peça chamada Eros uma Vez Psiquê ??? Pândegos até o fim da vida.
Surpreendente mesmo foi descobrir que a Vovó Mafalda é uma das juradas. Eu digo, a personagem.
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29/06 - Terça-feira
Infelizmente, para o Rafael, não pude conferir o espetáculo de hoje, pois estava ensaiando. Não tão infelizmente assim, porque o garoto ao menos pode compensar algumas horas de sono atrasadas. Acredito que ele só acordou na propaganda de DAN TOP e nos gritos de gostosa assim que a atriz entrou. Eu não faria diferente. Afinal, convenhamos, eram " três esquetes cômicas, três comédias curtas e ligeiras, em diferentes estilos, sobre o tema encurralamento". Puxa, alguém além do Wolf Maia ainda monta esquetes cômicas. Resta saber se alguém sabe fazer isso com um mínimo de qualidade.
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30/06 - Quarta-feira
Pegue uma música conhecida. Digamos que seja Faroeste Caboclo. Aquela da Legião que
você, como bom adolescente ridículo, já deve ter cantado milhões de vezes.
Divida-a em partes. Digamos que cada dois versos compõem uma parte. Teremos muitas
partes, tendo em vista que a música tem nove minutos e nenhum refrão.
Crie uma cena para cada uma dessas partes. Você pode fazer associações bizarras, do tipo
tocar a música do Café Seleto em referência a lá chegando foi tomar um cafezinho e
encontrou um boiadeiro com quem foi falar.
Não ligue para a compreensão que as pessoas terão de sua história, não se importe com a
quantidade de clichês em sua encenação e, acima de tudo, seja pândego. Você pode buscar o extremo da pandeguice, colocando uma cena de estupro de Santo Cristo enquanto os atores cantam " quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz".
Judie do público. Sempre que eles acharem que você está chegando ao fim da música, volte alguns versos ou repita a cena do duelo final. A cada cinco minutos, mude a luz para que seus atores risquem a cara com batom. Finalize com Ave Maria, um discurso político e o Hino Nacional.
Pronto. Apresente-se no FETSA e você ainda vai ouvir a Vovó Mafalda dizer que seu trabalho está entre a vanguarda e o experimental.
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01/07 - Quinta-feira
Confesso. Deu medo. Achei que seria humilhada, cuspida e chamada de vagabunda. Fui preparada pra rodar a baiana e bater nas crianças. Mas até que o povo gostou. Inclusive a Vovó Mafalda disse que sou uma grande atriz. Fomos comparados até a Bergman e Denise Stoklos. Convencemos tanto como um casal em cena que até acharam que éramos mesmo casados(*). Somos o mais avançado em matéria de experimentalismo. Projetamos nossa voz divinamente, nosso espetáculo é coeso, nossa parte técnica atua muito bem, nossa dramaturgia é ótima, nossa iluminação é linda, nossa experiência é única, nossa comunicação é exemplar, nossa sincronia é excepcional, não temos defeitos, e minha bochecha está com cãibra de tanto sorriso amarelo pra esses jurados sem-noção que certamente não entendem muito de teatro contemporâneo. Talvez nem de teatro moderno. Talvez eles tenham parado em Shakespeare. Ou Eurípedes.
Ah, dane-se. Foi divertido! E agora, eu vou fazer compressas de gelo no joelho e dormir.
Feliz e alimentada, porque meu "regime de urgência" acabou. E eu acho que já perdi os dois quilos. Parabumbumtchi!
(*) Jesus, me ajuda! Tira esse espinho do meu coração!
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02/07 - Sexta-feira
Eu preciso parar de julgar as pessoas pela aparência. Quando vi o diretor da peça de hoje, na reunião, há um mês, achei que ele parecia sensato. Achei até que a peça poderia ser boa. Afinal, golpe de 64, é um tema até interessante, e quem sabe se...
Pois toda a ilusão se dissolveu quando o dito cujo entrou em cena recitando poesias e
ilustrando tudo com as mãos. Canastra? Imagina...
Atores péssimos, história ridícula, clichês, clichês, clichês, e tudo que eu conseguia pensar era: o que eu estou fazendo aqui?
Orgulho mesmo deu da minha mãe vasculhando a bolsa atrás de chiclete pra não dormir.
E enquanto isso, no palco, o cara entrava vestido de anjo, ao som de Enya, e resgatava o jovem morto na ditadura, com direito a saída pelo público e pétalas de rosas caindo do alto.
E minha mãe dizia: " A gente reclama, Fe, mas e quem pagou, hein? " .
E o cara entrava de sunga branca, cheio de groselha, e ficava falando sobre a morte, e bábábá.
E eu pedia desculpas à minha mãe por obrigá-la a passar por aquilo.
E músicas e mais músicas tocando. Elis, Chico, Milton... e aquelas múmias fingindo que sabiam o que estavam dizendo.
Torci para que acabasse. Mas o fim foi o mais terrível.
Os caras levantaram uma faixa: ABAIXO A NOVA DITADURA. DIGA NÃO ÀS DROGAS E AO CRIME ORGANIZADO.
Ai de mim!
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Sim, hoje eu pude comprovar: Fernanda Gama fez a alegria dos adolescentes na noite de quinta-feira. Putaquepariu!!!
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Pessoas, o teatro morreu. O velório será no domingo, as 18h, com apresentação do Ronaldo Ciambroni. Uma pena, não poderei ir. Mas estarei no enterro, as 19:30h, em cerimônia apresentada por Vovó Mafalda, na qual serão entregues prêmios aos assassinos. Eu vendi minha alma ao FETSA. E Baco me cobrará caro por isso.
Senhores, bem-vindos ao universo do 1º FETSA - Festival de Teatro Santo Agostinho.
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28/06 - Segunda-feira
NARRADOR - E vamos contar a história de uma rainha que se chamava Psi..Psi..Psi...o quê?
CORO - Psiquê!!!!(*)
(*) Por CORO, entenda-se um grupo de quatro garotas, vestidas em túnicas de TNT preto arrastando no chão e que por isso mesmo precisavam ser erguidas com as mãos a cada passo que elas tentavam dar, gritando com suas vozes absurdamente agudas num jogralzinho digno de Homenagem da Pré-Escola no Dia das Mães.
Alguém esperava algo além de uma peça chamada Eros uma Vez Psiquê ??? Pândegos até o fim da vida.
Surpreendente mesmo foi descobrir que a Vovó Mafalda é uma das juradas. Eu digo, a personagem.
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29/06 - Terça-feira
Infelizmente, para o Rafael, não pude conferir o espetáculo de hoje, pois estava ensaiando. Não tão infelizmente assim, porque o garoto ao menos pode compensar algumas horas de sono atrasadas. Acredito que ele só acordou na propaganda de DAN TOP e nos gritos de gostosa assim que a atriz entrou. Eu não faria diferente. Afinal, convenhamos, eram " três esquetes cômicas, três comédias curtas e ligeiras, em diferentes estilos, sobre o tema encurralamento". Puxa, alguém além do Wolf Maia ainda monta esquetes cômicas. Resta saber se alguém sabe fazer isso com um mínimo de qualidade.
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30/06 - Quarta-feira
Pegue uma música conhecida. Digamos que seja Faroeste Caboclo. Aquela da Legião que
você, como bom adolescente ridículo, já deve ter cantado milhões de vezes.
Divida-a em partes. Digamos que cada dois versos compõem uma parte. Teremos muitas
partes, tendo em vista que a música tem nove minutos e nenhum refrão.
Crie uma cena para cada uma dessas partes. Você pode fazer associações bizarras, do tipo
tocar a música do Café Seleto em referência a lá chegando foi tomar um cafezinho e
encontrou um boiadeiro com quem foi falar.
Não ligue para a compreensão que as pessoas terão de sua história, não se importe com a
quantidade de clichês em sua encenação e, acima de tudo, seja pândego. Você pode buscar o extremo da pandeguice, colocando uma cena de estupro de Santo Cristo enquanto os atores cantam " quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz".
Judie do público. Sempre que eles acharem que você está chegando ao fim da música, volte alguns versos ou repita a cena do duelo final. A cada cinco minutos, mude a luz para que seus atores risquem a cara com batom. Finalize com Ave Maria, um discurso político e o Hino Nacional.
Pronto. Apresente-se no FETSA e você ainda vai ouvir a Vovó Mafalda dizer que seu trabalho está entre a vanguarda e o experimental.
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01/07 - Quinta-feira
Confesso. Deu medo. Achei que seria humilhada, cuspida e chamada de vagabunda. Fui preparada pra rodar a baiana e bater nas crianças. Mas até que o povo gostou. Inclusive a Vovó Mafalda disse que sou uma grande atriz. Fomos comparados até a Bergman e Denise Stoklos. Convencemos tanto como um casal em cena que até acharam que éramos mesmo casados(*). Somos o mais avançado em matéria de experimentalismo. Projetamos nossa voz divinamente, nosso espetáculo é coeso, nossa parte técnica atua muito bem, nossa dramaturgia é ótima, nossa iluminação é linda, nossa experiência é única, nossa comunicação é exemplar, nossa sincronia é excepcional, não temos defeitos, e minha bochecha está com cãibra de tanto sorriso amarelo pra esses jurados sem-noção que certamente não entendem muito de teatro contemporâneo. Talvez nem de teatro moderno. Talvez eles tenham parado em Shakespeare. Ou Eurípedes.
Ah, dane-se. Foi divertido! E agora, eu vou fazer compressas de gelo no joelho e dormir.
Feliz e alimentada, porque meu "regime de urgência" acabou. E eu acho que já perdi os dois quilos. Parabumbumtchi!
(*) Jesus, me ajuda! Tira esse espinho do meu coração!
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02/07 - Sexta-feira
Eu preciso parar de julgar as pessoas pela aparência. Quando vi o diretor da peça de hoje, na reunião, há um mês, achei que ele parecia sensato. Achei até que a peça poderia ser boa. Afinal, golpe de 64, é um tema até interessante, e quem sabe se...
Pois toda a ilusão se dissolveu quando o dito cujo entrou em cena recitando poesias e
ilustrando tudo com as mãos. Canastra? Imagina...
Atores péssimos, história ridícula, clichês, clichês, clichês, e tudo que eu conseguia pensar era: o que eu estou fazendo aqui?
Orgulho mesmo deu da minha mãe vasculhando a bolsa atrás de chiclete pra não dormir.
E enquanto isso, no palco, o cara entrava vestido de anjo, ao som de Enya, e resgatava o jovem morto na ditadura, com direito a saída pelo público e pétalas de rosas caindo do alto.
E minha mãe dizia: " A gente reclama, Fe, mas e quem pagou, hein? " .
E o cara entrava de sunga branca, cheio de groselha, e ficava falando sobre a morte, e bábábá.
E eu pedia desculpas à minha mãe por obrigá-la a passar por aquilo.
E músicas e mais músicas tocando. Elis, Chico, Milton... e aquelas múmias fingindo que sabiam o que estavam dizendo.
Torci para que acabasse. Mas o fim foi o mais terrível.
Os caras levantaram uma faixa: ABAIXO A NOVA DITADURA. DIGA NÃO ÀS DROGAS E AO CRIME ORGANIZADO.
Ai de mim!
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Sim, hoje eu pude comprovar: Fernanda Gama fez a alegria dos adolescentes na noite de quinta-feira. Putaquepariu!!!
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Pessoas, o teatro morreu. O velório será no domingo, as 18h, com apresentação do Ronaldo Ciambroni. Uma pena, não poderei ir. Mas estarei no enterro, as 19:30h, em cerimônia apresentada por Vovó Mafalda, na qual serão entregues prêmios aos assassinos. Eu vendi minha alma ao FETSA. E Baco me cobrará caro por isso.