Primeiro, que eu gosto de gente que não se leva tão a sério. Eu tento fazer isso o tempo inteiro. Eu nunca tenho sucesso, mas eu tento. Rir de si mesmo, rir de seu próprio trabalho, rir da incerteza. Gente que consegue o milagre da desmitificação- como fugir nesse momento da imagem do Janô babando e gritando desrubricar, desconfigurar, desconstruir, desmitificar, assassinem os mitos, assassinem os gênios, assassinem o Janô????
Daí uma companhia tem a pachorra de montar um´A Gaivota com vaso de planta, capacete de astronauta, penino no olho e suicídio com secador de cabelo cor-de-rosa. Sensacional.
Pela quebra de padrões, pelo humor, pela história que mesmo desconstruída é totalmente compreensível- e não, eu nunca tinha lido a gaivota antes de assistir a peça, pelo figurino que é funcional é lindo, pela luz que é ótima, e principalmente pelos atores.
Pelos atores.
Uma companhia tem que ter muita estrada e muito talento pra interpretar com tanta precisão, com tanta sincronia, pra dar e tomar o foco com tanta facilidade, pra apresentar trilhões de elementos cênicos e em nenhum- NENHUM- momento deixar o espectador perdido, sem saber pra onde olhar. E na hora de dizer aqueles bifões da Nina, do texto do próprio Tchekov, as vadias ainda se dão bem. Vadias. É muito pra minha cabeça.
Você não sabe se ri, se chora, se xinga.
Contemporâneo. De quem? Meu, com toda certeza!
Eles pecam um pouco nas projeções, completamente desnecessárias- embora eu admita que a piada do Rei do Gado me fez doer a barriga de tanto rir. Sim, podiam ter economizado em projetor, mas veja bem: uma peça que até o Phabulo disse que é genial merece respeito de qualquer um.
A Gaivota- tema para um conto curto está em cartaz no Sesc Pinheiros e é da
Cia dos Atores.
--------------------------------------------------------------------------------------
Eu gosto cada vez mais do Beto Brant. Achei O Invasor estranho, mas divertido, adorei Crime Delicado, e o novo filme me fez chorar como criancinha.
Em parte toda essa emoção se deve a ele ter cutucado minha ferida: falar sobre um recém-formado que não consegue arranjar emprego nem dinheiro pra nada, a essa altura do campeonato, é mancada. Ainda tem uma modelo que faz book e fica correndo atrás de testes e sonhando com o sucesso, pra terminar de fuder.
Mas o filme tem todo o mérito de um roteiro ótimo, simples, com diálogos naturalíssimos, de um trabalho de atores fantástico, de uma edição prática e eficiente e, claro, de um cachorro fofinho, que é chamado de... Cachorro.
Ah, com essa ele me ganhou de vez!
Pena que entrou em cartaz em três ou quatro salas. Quase ninguém vai conseguir assistir esse filme. Eu podia, quem sabe, no futuro não muito distante, conseguir atuar com Beto Brant. Seria bacana.
Cão sem Dono é do senhor Beto Brant, faz parte do meu contemporâneo, e pode ou não ser exibido em um cinema alternativo bem longe de você. Corre.