(um texto da exposição da Sophie Calle, como eu tinha prometido)
Então, alguns meses depois, reli a carta de X. Foram meses nos quais eu mudei. Durante os quais compreendi muitas coisas. E tudo o que eu havia escrito me soou absurdo.
Burro, cego e até perigoso, estava totalmente desprovida de lucidez. Eu sequer tinha lido corretamente a palavra "angústia" na carta de X., e na frase " Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente", ele estava tentando recuperar sua virilidade, e eu não tinha percebido isso na minha primeira leitura. Se Sophie o tivesse amado tanto quanto diz, ela não teria convocado um esquadrão de mulheres para ajudá-la a superar. Ela teria tentado superar isso, é o que se deve fazer, mas não assim, cercada por mulheres.
Um grande esquadrão de mulheres, é isso o que somos, com nossos textos patéticos ou nossas interpretações, nossas performances, sentindo pena de nós mesmas ante o homem; o melhor é ir atrás dele e fazê-lo sentir-se insignificante.
Eu deveria ter dito isso a Sophie, e estou dizendo agora: cuidado com todas essas mulheres reunidas. Evite-as. A maioria delas quer transformar os homens em mulheres, elas dedicam suas vidas a isso, o fato de serem mulheres as enlouquece, elas não podem aceitar. Elas não vão ajudá-la a se tornar uma mulher, uma mulher de verdade, ou seja, alguém que não tem nada, não tem mais palavras, não tem mais nada, nada de poder, poder sobre coisa alguma, uma mulher de verdade: boa e impotente. Elas não vão ajudar você, isso as deixa com raiva, o vazio, a falta. Elas não vão ajudá-la e continuarão dizendo "proteja-se", quando não há nada do que se proteger.
Você não tem nada. Você tem um vazio, você tem uma ausência, é só isso. Você é uma artista e isso não lhe dá poder, mas graça, sim, toda vez que vejo o seu trabalho, eu fico, não sei como dizer isso... fico emocionada e cheia de admiração. Mas mulheres reunidas, tudo o que elas querem é que os homens desapareçam, virem fantasmas distantes. Ou que sejam escravizados, estejam à disposição, sejam sempre acessíveis e vivam de acordo com os seus discursos, que eles supostamente entendem perfeitamente. Elas não querem "largar mão", elas pensam que eles são como crianças, elas adoram falar sobre a "fragilidade do homem" - tão tocante, elas dizem - ou sobre eles "fugindo". O coro que você reuniu em torno dessa carta é o coro da morte.