A maior merda de todas é esse tal dia seguinte.
Porque a gente sempre acha que vai ter uma merda de um dia seguinte. A gente imagina, a gente confia, a gente deixa pra depois, a gente quase vive o dia seguinte dentro da nossa própria cabeça.
Mas o dia seguinte ainda não chegou e portanto a gente ainda não viveu.
E tem vezes que o dia seguinte simplesmente não vem.
Tem dias seguintes que não chegam nunca e a vida sempre faz questão de jogar isso na nossa cara.
E aí, meu bem, é tarde.
------------------------------------------------------------------------------------------------
Oskar,
A noite que precedeu a perda de tudo foi como qualquer outra noite.
Anna e eu nos mativemos acordadas até muito tarde. Demos risada. Jovens irmãs na cama sob o teto de seu lar de infância. Vento na janela.
Como algo podia merecer menos ser destruído?
Achei que ficaríamos acordadas a noite toda. Acordadas para o resto de nossas vidas.
O espaço entre nossas palavras aumentou.
Ficou difícil dizer quando estávamos conversando e quando estávamos em silêncio.
Os pêlos de nossos braços se tocavam.
Era tarde e estávamos cansadas.
Achávamos que haveria outras noites.
A respiração de Anna foi diminuindo de ritmo, mas eu ainda queria conversar.
Ela se virou de lado.
Eu disse Quero lhe contar uma coisa.
Ela disse Você pode me contar amanhã.
Eu nunca tinha dito o quanto a amava.
Ela era minha irmã.
Dormíamos na mesma cama.
A hora certa de dizer nunca chegava.
Era sempre desnecessário.
Os livros do galpão de meu pai estavam suspirando.
Os lençóis subiam e desciam a meu redor com a respiração de Anna.
Pensei em acordá-la.
Mas era desnecessário.
Haveria outras noites.
E como se pode dizer eu te amo a quem se ama?
Me virei e adormeci ao lado dela.
É isso que eu estava querendo dizer o tempo todo, Oskar.
É sempre necessário.
Eu te amo,
Vó
Jonatahn Safran Foer
------------------------------------------------------------------------------------------------Porque a gente sempre acha que vai ter uma merda de um dia seguinte. A gente imagina, a gente confia, a gente deixa pra depois, a gente quase vive o dia seguinte dentro da nossa própria cabeça.
Mas o dia seguinte ainda não chegou e portanto a gente ainda não viveu.
E tem vezes que o dia seguinte simplesmente não vem.
Tem dias seguintes que não chegam nunca e a vida sempre faz questão de jogar isso na nossa cara.
E aí, meu bem, é tarde.
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Oskar,
A noite que precedeu a perda de tudo foi como qualquer outra noite.
Anna e eu nos mativemos acordadas até muito tarde. Demos risada. Jovens irmãs na cama sob o teto de seu lar de infância. Vento na janela.
Como algo podia merecer menos ser destruído?
Achei que ficaríamos acordadas a noite toda. Acordadas para o resto de nossas vidas.
O espaço entre nossas palavras aumentou.
Ficou difícil dizer quando estávamos conversando e quando estávamos em silêncio.
Os pêlos de nossos braços se tocavam.
Era tarde e estávamos cansadas.
Achávamos que haveria outras noites.
A respiração de Anna foi diminuindo de ritmo, mas eu ainda queria conversar.
Ela se virou de lado.
Eu disse Quero lhe contar uma coisa.
Ela disse Você pode me contar amanhã.
Eu nunca tinha dito o quanto a amava.
Ela era minha irmã.
Dormíamos na mesma cama.
A hora certa de dizer nunca chegava.
Era sempre desnecessário.
Os livros do galpão de meu pai estavam suspirando.
Os lençóis subiam e desciam a meu redor com a respiração de Anna.
Pensei em acordá-la.
Mas era desnecessário.
Haveria outras noites.
E como se pode dizer eu te amo a quem se ama?
Me virei e adormeci ao lado dela.
É isso que eu estava querendo dizer o tempo todo, Oskar.
É sempre necessário.
Eu te amo,
Vó
Jonatahn Safran Foer
Oh Lord, please don´t let me be misunderstood!