sábado, dezembro 31, 2011
Pouco menos de um ano de sobrevida pra humanidade, chove nas ladeiras de paralelepípedos escorregadios de Ouro Preto e você dorme aqui do lado enquanto eu me rendo ao clichê de falar que a chuva de algum modo limpa o ano que passou pra começar um novo ano - como há trezentos anos alguma moça branca do alto do imenso casarão de seu marido ou uma moça negra trancada em um porão escuro também olhavam a última chuva do ano - claro, já chovia no ano novo, como ainda chove e choverá sempre - e pensavam que no ano seguinte tudo mudaria, mesmo que todos saibamos que as coisas não mudam, pra nenhuma da três.
Ouro Preto é uma maquete dentro da qual a gente anda, um grande álbum de fotografias em 3D, eu aqui, por entre as páginas, folheando as lembranças dos outros e amarelando junto, lamentando as Polaroids que o tempo conseguiu apagar. O passado então só existe se você ainda pode olhar pra ele, se está ao alcance da mão, ou aos poucos vai sendo esquecido?
A casa onde cresci foi vendida. Minha mãe me deu a notícia na véspera de Natal, num misto de sorriso e cara de choro - era ela quem não sabia o que sentir ou era eu? Em quarenta e cinco dias corridos, a casa deixa oficialmente de ser a nossa casa, ou a casa velha, ou a casa da Herculano, e eu não posso ir de vez em quando ter certeza que a felicidade que vivi ali de fato existiu. Meu álbum de fotos de uma vida inteira queimado em um incêndio, levado numa enchente, destruído num bombardeio inimigo - eu só precisava dele na minha gaveta, não olharia todo dia, mas ele estaria lá, por mim. Tenho medo de esquecer quem sou, por um motivo qualquer, me tornar alguém pior e não haver mais museu de mim mesma a ser revisitado. Eu não me importaria por pagar 6 reais de entrada para a manutenção do acervo - pago bem mais que isso pra minha analista semanalmente há mais de três anos pelo mesmo motivo - só para que o canto do jardim onde eu me agarrava com meu primeiro namorado não fosse esquecido, ou o local exato onde ficava a tabela de basquete onde eu praticava quando isso ainda era minimamente importante, ou o desenho das grades das janelas atrás da fresta da cortina por onde eu olhava para ver quem estava tocando a campainha quando ficava sozinha em casa. Eram redondas as pontas das grades? Ou tinham lanças? Tenho mais quarenta e cinco dias pra lembrar. Não serão o bastante?
Tenho amigos com quem não tenho nada em comum - a não ser o passado. Mas não ousamos assumir nossa separação pois há fotos no páteo do colégio ou na praia no verão de 87 ou daquela sua franja horrorosa aos quatorze anos ou sabe Deus o quê. Então, nos encontramos de tempos em tempos num acordo secreto de "você alimenta meu passado, eu alimento o seu, e seguimos nossas vidas separadas como se de fato soubéssemos do outro mais que o páteo do colégio, o verão de 87 e aquela franja horrorosa". Talvez seja o suficiente. Talvez ninguém queira pagar o preço de assumir que o passado já passou e pronto, não existe mais. Como a esposa infeliz que não ousa se separar porque não pode jogar fora anos de vida comum. Como quem não muda de emprego porque já perdeu tantos anos investindo nele. Como quem podia ser feliz hoje, mas prefere ficar se prendendo aos traumas antigos. Como eu, que já fiz e ainda faço tudo isso.
Tem esse lugar comum de que o último post do ano tem que ser retrospectiva misturada com promessa de ano novo e desejos de paz-saúde-prosperidade e beijo-pra-minha-mãe-pro-meu-pai-pra-você. E pra que fugir do lugar comum? Vamos lá: 2011 foi um ano de deixar um pouco do passado pra trás. Ou aprender a olhar pra ele como passado. Como peças de uma exposição. Pra pensar Meu-Deus-como-eu-conseguia-seguir-vivendo-nesse-lugar-com-essas-pessoas-como-eu-sobrevivi? Mas eu estou aqui, inteira ou quase inteira, escrevendo sobre o que está do lado de fora dessa janela enquanto você dorme aqui do lado e nem imagina que eu vou ser capaz de terminar esse post dizendo que nem eu nem você sabemos o que está por vir e é daí que vem a beleza da vida, e talvez isso também passe pela cabeça da moça branca trancada num porão escuro ou da moça negra solteira do alto da janela de seu casarão que daqui a trezentos anos continuarão a pensar que as coisas nunca vão mudar.
terça-feira, dezembro 20, 2011
Peças do ano
Porque entra ano e sai ano, mas eu não perco a cafonice. #retrospectivasforever
Peças de 2011:
- Resta Pouco a Dizer
- A Meia-Noite um Solo de Sax na Minha Cabeça
- Prometheus Nostos
- O Idiota
- Mary Stuart (Denise Stoklos)
- Ten Chi (Pina Bausch Tanztheater Wuppertal)
- Natura Sonoris (Open Lab Company)
- Savana Glacial
- Medusa
- La Omision de La Familia Coleman
- Logun-Edé - Uma Pequena Yorubópera para Crianças
- Mantenha Fora do Alcance de Crianças
- Trilhas Sonoras de Amor Perdidas
- O Jardim
- O Bloco do Eu Sozinho
- Insônias de Antônio
- Luis Antônio - Gabriela
- Sonho de um Homem Ridículo
- Hospital da Gente
- A Brava
- Gota D´água
- Cachorro!
- Rebu
- Alice no País das Maravilhas (Le Plat du Jour)
- Uma Flauta Mágica (Peter Brook)
- Realismo
- O Maravilhoso Mundo de Dissocia
- Prometheus - A Tragédia do Fogo
- Disney Killer
- Os Náufragos da Louca Esperança
- Ar Vazio
- O Silêncio Depois da Chuva
- As Desgraçadas
- Os Altruístas
Num total de 34 peças. O que é um bom número perto das 28 de 2010 ou das 21 do depressivo ano de 2009, mas é uma vergonha perto das 39 de 2008 e das espantosas 42 de 2007. Levando em conta que minha meta no começo do ano (puta coisa de nerd!) era de uma peça por semana (e um ano são 52 semanas), estamos bem longe. Tenho aquelas de ler um livro por mês, também, mas eu sinceramente nunca sei se dou conta da meta ou não.
Voltando às 34 peças, fico aqui pensando que deve ter muita gente por aí que não viu isso de peça na vida toda. Não, não tô falando das populações ribeirinhas do Norte da Paraíba nem das comunidades em situação de risco da periferia de Manaus nem das adolescentes prostitutas criminalizadas tatuadas viciadas em heroína da região mineradora das proximidades de Goiânia. Estou falando de gente do meu convívio, mais ou menos da minha idade, mais ou menos com o meu poder aquisitivo. E olha... se bobear, tô falando de gente que também faz teatro... ou diz que faz...
#joguei
Peças de 2011:
- Resta Pouco a Dizer
- A Meia-Noite um Solo de Sax na Minha Cabeça
- Prometheus Nostos
- O Idiota
- Mary Stuart (Denise Stoklos)
- Ten Chi (Pina Bausch Tanztheater Wuppertal)
- Natura Sonoris (Open Lab Company)
- Savana Glacial
- Medusa
- La Omision de La Familia Coleman
- Logun-Edé - Uma Pequena Yorubópera para Crianças
- Mantenha Fora do Alcance de Crianças
- Trilhas Sonoras de Amor Perdidas
- O Jardim
- O Bloco do Eu Sozinho
- Insônias de Antônio
- Luis Antônio - Gabriela
- Sonho de um Homem Ridículo
- Hospital da Gente
- A Brava
- Gota D´água
- Cachorro!
- Rebu
- Alice no País das Maravilhas (Le Plat du Jour)
- Uma Flauta Mágica (Peter Brook)
- Realismo
- O Maravilhoso Mundo de Dissocia
- Prometheus - A Tragédia do Fogo
- Disney Killer
- Os Náufragos da Louca Esperança
- Ar Vazio
- O Silêncio Depois da Chuva
- As Desgraçadas
- Os Altruístas
Num total de 34 peças. O que é um bom número perto das 28 de 2010 ou das 21 do depressivo ano de 2009, mas é uma vergonha perto das 39 de 2008 e das espantosas 42 de 2007. Levando em conta que minha meta no começo do ano (puta coisa de nerd!) era de uma peça por semana (e um ano são 52 semanas), estamos bem longe. Tenho aquelas de ler um livro por mês, também, mas eu sinceramente nunca sei se dou conta da meta ou não.
Voltando às 34 peças, fico aqui pensando que deve ter muita gente por aí que não viu isso de peça na vida toda. Não, não tô falando das populações ribeirinhas do Norte da Paraíba nem das comunidades em situação de risco da periferia de Manaus nem das adolescentes prostitutas criminalizadas tatuadas viciadas em heroína da região mineradora das proximidades de Goiânia. Estou falando de gente do meu convívio, mais ou menos da minha idade, mais ou menos com o meu poder aquisitivo. E olha... se bobear, tô falando de gente que também faz teatro... ou diz que faz...
#joguei
terça-feira, dezembro 13, 2011
quinta-feira, dezembro 08, 2011
HQ
Não tenho o menor talento pra desenhista, mas se tivesse faria uma tirinha assim:
Primeiro quadrinho: Fernanda chorando.
Segundo quadrinho: Fernanda chorando, uma mão na cabeça da Fernanda, um balão dizendo "tudo bem, não foi culpa sua, você sabe".
Terceiro quadrinho: Deus sambando.
Não precisava, Deus. Dessa vez foi cruel pra caralho, e realmente: N-Ã-O-P-R-E-C-I-S-A-V-A.
terça-feira, dezembro 06, 2011
Coisas que não entendo
- A Selvinha de Natal do Bradesco na decoração de Natal desse ano;
- Os prédios da Paulista na competição de quem é mais cafona, e o povo desacelerando pra tirar foto mesmo assim;
- A Suzana Vieira ter menos rugas hoje do que tinha em Mulheres de Areia (1993);
- Uma pessoa tão acostumada ao fracasso que, quando ganha algo, ao invés de comemorar, entra em pânico.
A pessoa acima, no caso, sou eu.
(este post pode e será atualizado)
quarta-feira, novembro 30, 2011
#areiamovediçafeelings
Pra que se debater?
Afinal, que infelicidade é essa da qual eu tento tanto fugir o tempo todo? Essa que faz atirar para todo lado, essa que faz agarrar a qualquer coisa flutuante antes que o barco termine de afundar, essa coisa de anywherebuthere anylifebutmine anyjobbutthisone?
Que infelicidade tamanha é essa, meu Deus, a que eu acho que eu sinto?
Não valia mais a pena me acostumar com ela, abrir portas e janelas, convidá-la pra um chá, pra deitar no sofá, abrir a geladeira, acabar com a caixa de bombons que tem na prateleira da cozinha. Até que eu me acostume tanto que pare de doer.
Ridículo. Ridículo que as coisas até quando dão certo ainda cismem em dar errado.
Ridículas as escolhas que tenho feito.
... escolhas? Quem escolhe deixa o resto de lado, e eu só tenho tentado fazer tudo ao mesmo tempo, e pelo jeito tudo menos justamente aquilo que eu deveria fazer.
Bom, que diferença faz, quem sabe, quem vê? Quem vê a menina invisível? Quem enxerga o meio termo, meio do caminho, o mais ou menos, em cima do muro?
A vida segue, eterno descobrir do que não queremos mais, do que não aguentamos mais, de quem não gostamos mais, e o que é que a gente quer, então, poham?
Escrevendo antes de dormir pra ver se o cansaço ajuda a ser um pouco mais sincera. E sem nenhum senso crítico, publico o texto mesmo assim. Um texto invisível. Como eu. Ou como essa infelicidade que tá sempre por aqui mas ninguém vê. Mas tá. E dói. Aqui, ó.
quinta-feira, novembro 03, 2011
Demodé
As coisas saem de moda.
Primeiro era LP, depois fita cassete, depois CD, depois mp3 e pronto. Quando aparece algo que satisfaz melhor nossas necessidades, abandonamos nossos prediletos sem dó nem piedade.
E a verdade é que o blog também saiu de moda.
Escrevo muito pouco por aqui, mas entro todo dia, e saio clicando em todos os blogs que estão listados aí do lado e nenhum, NENHUM está em dia com a história das atualizações. Alguns estão sem atualizar desde o começo de outubro, outros desde setembro, junho, maio até... não era pra ser um diário virtual?
O Facebook superou os blogs. Toda essa farsa que queríamos manter, esse papinho de que escrevíamos no blog porque gostávamos de escrever, porque queríamos nos entender, porque queríamos discutir sobre música, literatura, design, piscologia, porque o blog era uma nova forma de publicar nossos contos e crônicas, de divulgar trabalho, blablabla, tudo mentira.
A gente queria mesmo era confete.
No Facebook você posta qualquer merda e pronto, todo mundo like, comment, share e o caralho. É fácil ter audiência. Pra que vamos perder nosso tempo pensando em um post realmente legal pra colocar no blog?
Os dias vão passando e esse espaço continua vazio.
Fomos desmascarados!
quinta-feira, outubro 13, 2011
Dia XX
(ou As Postagens Acabaram mas a Dieta Monstro continua)
Juro!
Não nego que houveram pequenos deslizes em especial no feriado - pequenos?
Mas a Dieta Monstro continua por aqui.
Substituindo chocolates por copos e mais copos de café, abusando das frutinhas e da Club Social integral, evitando as frituras.
E, infelizmente, por causa dessa correria absurda de entregar projeto, cabulando academia e aula de dança sem parar.
Comprei uma saia hoje. O tamanho era 42.
Isso tem que mudar em breve.
Isso tem que mudar.
Tem que mudar.
quinta-feira, outubro 06, 2011
Dia 03
Café da manhã se salva, que de alguma coisa eu preciso me orgulhar. Pão integral, na torradeira, crem cheese, um copo de Ades...
Corrida pra apresentação, não deu tempo de almoçar - comprei um lanche no pão de açúcar. #nossasenhoradodrivethrurogaipornós.
Odeio isso de comer no carro? Puta sol, puta poluição, puta merda! Puta lanche gostoso: pão integral, frango, cenoura, uva passa. Certeza que tinha maionese - fazer o quê, comparei várias etiquetinhas de tabela nutricional, aquele era o que valia mais a pena na situação dada.
Cafézim preto, pacotim de cookies da Taeq - taí, Taeq, puta marca digna! E cara pra poham...
Cheguei em casa, sem tempo pro jantar, comi duas torradas integrais com cream chesse e um copo de Ades- anota aí: dieta sem cream cheese e Ades não é dieta - e corri de novo pra entregar projeto. E chá de cadeira, tem muita caloria?
Fome de novo - também, não almoça nem janta, caralho! - café com adoçante, que ninguém aqui é palhaça, e um daqueles salgados integrais com recheio de abóbora com ervas da Macedônia colhidas pelas freiras lésbicas manetas trazidas do Uzbequistão como escravas brancas. Não me enganam: tem cara de comida magra, mas deve ser comida das mais gordas.
Em casa, ainda com fome, o famoso beirute vida: pão sírio, cream cheese (opa!), peito de peru, queijo minas, rúcula, tomate cereja e... Mostarda com Mel. Deus existe e é vendido nas prateleiras do Pão de Açúcar com desconto pra Cliente Mais.
Claaaaaro que por causa da correria não fui na academia. #diacorridodapoham
Sou ou não sou sinônimo de fracasso?
quarta-feira, outubro 05, 2011
Dia 02
Ah, se todas as refeições fossem simples e leves como o café da manhã...
Três horas depois, café na sala dos professores, com um pacotinho de uma bolachinha da Mabel(!) chamada... 100calorias por pacote. Alô, Vó? Tem nome mais apelativo que esse? E por quê eu não consigo acreditar que eles estejam falando a verdade? Se fosse a mesma bolacha vendida pela Herbalife, aí eu acreditaria. E pagaria 89,90 pelos mesmos seis pacotinhos que comprei por 3,56...
Almoço foi pura dignidade: restaurante natural em Higienópolis. #vida. Aproveito o momento para algumas considerações:
01. Carpaccio é um nome ligado diretamente à carne. Você pode cortar uma pupunha em rodelas bem finas e colocar um molhinho de manga em cima, mas isso não faz dela um carpaccio.
02. Carne de soja = #moçafiestafeelings
03. Restaurante vegetariano tem um cheiro esquisito, não tem?
04. Pode ser #vida o quanto quiser, mas cobrar 27,00 por um almoço sem incluir suco nem sobremesa? É por isso que geral tá gorda, né...
Lá pelas cinco umas torradinhas light com cream cheese light, com capuccino light. #souounãosoulightbenhê?
Primeiro dia da oficina de dança. Tô meio fora de forma. Aposto que meu corpo vai doer amanhã, principalmente naqueles músculos escondidos. Olha lá, tem uma menina do outro lado da sala de calça vermelho berrante e collant preto por cima! Ela tem cabelo curto estilo joãozinho mas com a franja bem desigual e mais comprida pra um dos lados e usa um brinco só, vermelho de plástico, na orelha esquerda. Quer saber? Sou gorda mas vivo em 2011. #anos80épuravergonhaalheia
Uma maçãzinha no metrô, uma sopinha Vono ao chegar em casa. Caraca, isso pode até ter pouco caloria, mas esse gosto de ajinomoto não é de Deus, gente, não pode ser... fechar com um copo de Ades Frutas Cítricas -edição limitada, mas não é bacana, comprem o de melão que é muito melhor.
Vou dormir logo, antes que bata a larica e eu devore todas as 7belo do baleiro.
terça-feira, outubro 04, 2011
Dia 01
Um café da manhã light em casa. Café é sempre a refeição mais fácil, ele é quase um prólogo, o resto do dia sim é que são elas...
Pro almoço não tinha muito na geladeira nem eu tempo pra comer fora, improvisei um omelete que virou ovo mexido... sempre eu e minhas receitas #ficougostosomasaaparênciadánojinho. Sobremesa é um martírio: até comprei um mousse diet de caixinha pra fazer - foi caro e ficou fracassado. Foi meio #moçafiestafeelings: pode até ser um treco de chocolate gostosinho, mas não é brigadeiro de verdade, nem fudendo.
Fui na academia, isso é muito muito justo. Mais justo que isso só minha calça na região da barriga. Me recuso a comprar roupa de ginástica nova. Aliás, me recuso a comprar roupa nova - não antes de voltar ao tamanho 38.
Tomei um Nescafé na conveniência do posto lá na Av Angélica e achei que tava doce demais - acho que a mulher confundiu e me deu um daqueles de Leite Moça junto - será? Se for, não é justo eu engordar, porque pedi o café com leite normal, com adoçante! Deus, me livra dessa?
Sorte minha que mamãe estava em casa e rolou uma berinjela divina pra janta... ainda tive que comer uns cookiezinhos antes de dormir que eu tava com fome...
A propósito, acordei com um machucadinho na boca, acho que me mordi durante a noite. Será esta uma consequência? #medodadietamonstro
Não consigo mais escrever sem usar #. Pensei em me propor a não usar enquanto durar o regime. Mas acho que aí, sim, seria privação demais.
#putapostdemulherzinha
segunda-feira, outubro 03, 2011
DIETA MONSTRO
... porque quando já se chegou aos 28 anos, e se está pelo menos uns seis quilos acima do que você antes considerava como seu peso ideal, está na hora de se tomar uma atitude.
E como todos os regimes anteriores se mostraram eficientes apenas pela primeira semana (e todo mundo sabe que regime é uma coisa semanal - tem sempre que começar na segunda, e uma vez que você saiu dele na quarta-feira, você já sabe que vai continuar saindo até o fim de semana, e não tem muito como fugir disso), resolvi publicar aqui (mais) este início...
Uma tentativa de fazer um Diário da Dieta (por quê não?) e de, quem sabe, parar pra pensar antes de sair comendo doces por aí compulsivamente - pior que os quilos que você ganha quando sai da dieta, só a vergonha de ter que publicar que ganhou alguns quilos porque saiu da dieta...
Vamos ver se essa vida pseudo-publica que estabeleço neste blog (e que anda bem abandonada, vamos admitir.... se eu fosse celebridade, já estaria em decadência) tem de fato alguma utilidade.
segunda-feira, setembro 12, 2011
quarta-feira, agosto 24, 2011
O corpo pede pra comer, o corpo pede pra cagar, o corpo pede pra trepar, o corpo pede pra chorar, o corpo pede pra ficar doente e é simples assim.
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Você vai lá e programa direitinho a lista de reprodução da sua vida, mas Deus insiste em só te escutar no Shuffle.
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Dói, sim.
Não vou negar.
Dói.
Quem sabe, um dia, passa.
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Como uma criança que só cai no choro quando sabe que tem alguém olhando
Chorava na frente do espelho
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- Eu compartilho da sua dor.
- É. Mas ela não dói em você. *
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E justamente por ser assim tão só, podia chorar tão alto quanto quisesse, que não havia ninguém por perto pra ser incomodado.
Essa liberdade toda a deixava feliz.
Pronto. Era só balancear as duas coisas e não choraria nunca mais.
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Destino é o nome que a gente inventou pra quando as coisas dão assustadoramente certo.
Quando elas dão assustadoramente errado, mudamos o nome pra karma.
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No fundo, no fundo, ela sabia que não tinha motivo nenhum pra continuar tocando sua vida como estava. Mas também não tinha motivo nenhum pra mudar. A isso ela deu o nome de inércia.
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Eu tenho planos de fazer um mestrado sobre a Inércia no Trabalho do Ator. Gente inquieta do caralho.
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Bebeu seus longos goles de melancolia e ao fim da noite, não resistindo, pôs tudo pra fora.
No dia seguinte, ainda bêbada de si mesma, pôs-se a escrever textos sem sentido.
Talvez, mais sóbria, não teria dito tudo o que disse.
Talvez, mais lúcida, nunca teria tido nada a dizer.
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A resposta da maioria das questões existenciais é não.
CER-TE-ZA.
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O corpo pede pra dormir. Eu atendo.
* E o único trecho realmente interessante desse post não é meu, é do Chico Buarque e do Paulo Pontes em Gota D´Água. O nome disso é fracasso.
quinta-feira, agosto 04, 2011
Indo para um compromisso, você está dentro de um ônibus que está parado em um congestionamento. Faltam cinco minutos pra você estar oficialmente atrasado, e do lugar onde está até o seu destino, com trânsito livre, você demoraria no mínimo vinte. Talvez esse não seja mesmo o melhor horário pra essa viagem. Mas o compromisso está marcado, e embora você ainda possa desistir - a gente sempre pode desistir, se quiser - essa não é a melhor opção. Você teria que ir outro dia, outra hora, enfim, o ônibus não se mexe, tá apertado, e você começa a se sentir aflito. Passa pela sua cabeça sair do ônibus e ir a pé, mas porra, é muito longe, é muito trampo, e agora que eu já tô aqui e já paguei a passagem o melhor é aguentar firme até o final e ver o que é que dá. Você questiona porque resolveu pegar o ônibus, porque não foi de táxi, porque não foi de carro, e amaldiçoa todos os que não te ofereceram uma carona. Olha pra os outros passageiros e tem raiva deles porque, apesar de estarem na mesma merda que você, pelo menos estão sentados, ou lembraram de trazer um livro, um iPod, ou tem um tênis incrível que parece super confortável enquanto o seu All Star tá apertando. Amaldiçoa a SPTRANS e a Prefeitura, amaldiçoa ter um dia escolhido morar nessa cidade, amaldiçoa o compromisso e você mesmo por ter aceitado. De vez em quando você até torce e pensa que, tudo bem, até que não estou atrasado assim, aposto que todos vão atrasar, eu dou um desculpa, dou um jeito, vai ficar tudo bem. Mas a aflição não passa. Você olha no relógio, o desespero é grande, o tempo corre e você está muito, muito longe de chegar onde quer.
É mais ou menos essa a sensação quando se chega ao tal retorno de Saturno...
quarta-feira, agosto 03, 2011
sexta-feira, julho 29, 2011
Merda!
Voltei a minha vida de plateia. Estava com saudades dela. Mesmo assim, demorei pra me acostumar. Sempre tem algo que grita, uns vinte minutos de peça que dava pra cortar, um gesto que você não acredita, uma música que entra alta demais, um microfone que não funciona, uma cena desnecessária, um ator que não tem tanta presença assim, enfim, nunca é 100%. Mas estou aprendendo, e cada vez mais, a perceber o trabalho que está por trás disso, e respeitá-lo, antes de achar tudo uma grande merda.
Ser plateia, na verdade, não me faz mais feliz. Um espetáculo, quando é muito bom, me incentiva e me inspira pra fazer o meu próximo espetáculo, e isso, sim, me faz feliz. Mas não era pra ser isso mesmo? Pra gente se alimentar da arte, e assim fazer mais arte? Como era, aquele lance da antropofagia, que só ela nos unia, e tals? Não lembro.
Ah, coisas remotas, de uma época em que o teatro era visto de outro jeito, seja como um bálsamo para o espírito, ou como uma forma de ritual, ou até mesmo como uma forma de entretenimento, quem diria, enfim, tempos em que o teatro não tinha que ser necessariamente usado para a militância política, e a gente podia fazer teatro onde quisesse, e para o público que quisesse. Ainda não tinha essa obrigação de fazer teatro engajado, PRA SOCIEDADE, senão ele não tem valor. Mas isso é bobagem, coisa do passado, o legal agora é militar em prédio público ocupado, pegar uma grana do governo pra bancar sua peça feita na periferia e depois correr pra comprar ingresso daquela peça bafo internacional que vem pro Alfa, custa 200 reais, mas quem liga? é pra ver teatro de verdade! teatro como não é feito aqui! teatro bom dos grandes mestres lá fora. no Brasil só tem peça ruim! tudo que eu vejo é uma merda! é uma merda! merda! merda! merda! bora logo fazer esse discurso na assembleia que eu tenho que pegar meu voo pra apresentar minha peça no SESC do Rio.
Bom, é isso, parece que eu sou mesmo uma dessas que fazem teatro pra satisfazer a si própria, pelo próprio ego, como andam dizendo por aí. Uma dessas que não faz teatro PRA SOCIEDADE. Engraçado, achei que eu era parte da sociedade, também, e que isso me dava alguns direitos. Bom, vai ver eu tava errada. Quem sou eu pra discutir com os trabalhadores da cultura, não? Como chama aquele negócio que eu tirei depois de cinco árduos anos de faculdade? DRT? Onde ele anda mesmo? Não lembro.
Eles estão certos, parece. O legal é dizer que o seu trabalho é bacana, exigir dinheiro pra ele, e minimizar a importância do trabalho dos outros. Se não é do meu jeito, não é bom. Estão lá, todos eles, os verdadeiros artistas, sentados em plateias e torcendo o nariz pra tudo que veem. A classe que sustenta a própria classe que diz que luta pela classe mas que no fundo atrapalha a própria classe. E no lugar dela, que é num prédio largado no meio da Santa Cecília, a dois quarteirões da Cracolândia, bem longe dos olhos da grande mídia e DA SOCIEDADE.
Não sei onde perdi o bonde, mas acho que fiquei ensaiando oito horas diárias um tempo aí e as coisas devem ter mudado nessa época. Mas tudo bem, galera, agora tenho tempo e posso ser uma artista de coisas importantes, igualzinha a vocês. Dessas que se acham no direito de decidir pelos outros o que é bom e o que é ruim.
Você, amigo que estuda teatro, você ainda tem tempo, então foge, amigo, foge dessa.
Que você até deve achar que a escola está te ensinando a ser um bom artista, mas se você não tomar cuidado, tudo que a escola vai te ensinar é a ser um chato.
Eu já fui como você, e, acredite, o mundo é muito mais do que isso aí.
O mundo é a tal da SOCIEDADE, e a SOCIEDADE não lê esse blog, não assiste teatro e está cagando pra tudo isso que eu, você e os trabalhadores da cultura estamos falando.
segunda-feira, junho 27, 2011
sábado, junho 25, 2011
quinta-feira, junho 23, 2011
terça-feira, junho 21, 2011
terça-feira, junho 14, 2011
Palavras, palavras, palavras.
Um blog inteiro cheio de palavras que não servem pra nada.
Textos e mais textos meus, esses textos de gente tentando se entender, que não servem pra nada.
Quisera eu um dia abrir esse blog e ver um texto que dissesse de verdade quem eu sou. Surgido do nada, escrito sabe Deus por quem. E então a cada dia eu entraria nesta página, e saberia um pouco mais sobre mim. Mas coube a mim a função de publicar aqui, e isso torna toda a coisa impossível.
Declaro, a quem interessar possa: desistam.
Daqui não sai mais nada sobre mim.
As mil ideias que passam pelo meu cérebro nas outras horas do dia, estas não chegam até aqui. Porque o cérebro é feito de ideias, e os textos são feitos de palavras. Porque transformar uma coisa na outra nunca foi tarefa das mais fáceis. Porque uma palavra não serve mesmo pra nada se você não sabe o que fazer com ela.
domingo, junho 12, 2011
quinta-feira, junho 02, 2011
NIKLASSTRASSE, 36
Baseado na obra A Metamorfose, de Franz Kafka, o espetáculo Niklasstrasse, 36 mostra uma manhã que deveria ser como outra qualquer, mas que marca, definitivamente, a vida de Gregor Samsa. A metamorfose já aconteceu. O que o espectador vê, ao longo da fábula kafkiana, é a transformação do entorno, das pessoas que convivem com Gregor - a clareza cada vez mais nítida sobre a perversidade das relações familiares, das estruturas de dominação e submissão e da alienação humana. Com Aline Baba, Camila Nardoni, Luana Frez, Lucas Almeida e Mariana Viana. Direção René Piazentin.
Teatro Cacilda Becker - Rua Tito, 295, Lapa
de 03 a 26 de junho de 2011
Sextas e sábados as 21h e domingos 19h
Ingressos: R$10,00 (meia R$5,00)
segunda-feira, maio 30, 2011
Prezado blog abandonado,
Peço desculpas pela minha ausência no último mês.
Não foram poucas as vezes em que acessei seu endereço e percebi que a data da última postagem estava cada vez mais distante. Mas a cada dia uma nova desculpa se apresentava. E assim passei o último mês ocupada demais com as pequenas bobagens do cotidiano, perdendo tempo sonhando com coisas impossíveis, e esqueci que você estava aqui, com seu aconchegante http://, esperando pelas minhas lamúrias.
Ando cansada desse cotidiano inútil, desse trabalho que se dizia tão surpreendente, tão renovador, tão cheio de experiências incríveis e na realidade se mostra uma repetição eterna de injustiças burocráticas, artísticas, lógicas, um desfile de egos inflados e de gente com pouca responsabilidade e ainda menos ética. Uma mistura de gente inocente que ainda acredita no que faz, e gente que já passou dessa fase e hoje se dedica com muito esmero a partir os sonhos dos outros. Um grupinho dos que não tão nem aí, e o outro dos workaholics que já perderam a noção da realidade. No fundo, um bando de fudidos tentando chegar sempre antes. E sair melhor na foto.
Cansada de trabalhar pelos outros, cansada de não poder tocar seus próprios projetos como gente grande. Cansada de ter que aprender com os próprios erros, cansada de errar, cansada de se incomodar com isso. Cansada das falsas esperanças. E da minha falta de coragem em desistir de vez - já que nada dá certo mesmo, por que não? por que não? Cansada de tentar adivinhar o futuro, cansada da conta do banco que é negativa, cansada de preencher seus dias com uma falsa sensação de que é dona da própria vida, pra no fim da noite sempre perceber que não tem nada, ninguém, porra nenhuma.
Ah, querido blog. Cansada de fazer perguntas a quem não pode me responder.
Você, por exemplo.
Deixemos tudo isso pra lá.
terça-feira, maio 03, 2011
Não me preocupo mais em acertar contas com o passado.
Quando viro a esquina e dou de cara com ele, viro as costas e ponto final.
O que não faz de mim alguém mais forte/fraca, feliz/infeliz, madura/imatura, cristã/pagã: só alguém que se convenceu de que passado demais é problema, doença, quase obsessão.
Me interessa olhar pra frente.
Na boa: quem vive de passado é kardecista.
quarta-feira, abril 27, 2011
Passei mal a noite toda, acho que li alguma coisa que não me fez muito bem.
Sonhei que uma ideia genial me perseguia, querendo ser colocada num papel.
Acordei suando, assustada, com a impressão de que ela ainda estava ali, no quarto, rondando. Não consegui pregar os olhos com medo dela voltar.
Só quando o sol nasceu é que pude dormir em paz.
As ideias geniais nunca NUNCA aparecem pela manhã.
terça-feira, abril 26, 2011
quarta-feira, abril 13, 2011
Fake Moleskine
Ele é quase um pára-raio de ideias, um tradutor-intérprete entre você e o mundo, e você precisa deixar ele ali, na sua bolsa, a postos, porque a qualquer momento do seu dia pode surgir uma ideia genial que você precise anotar, e se o Moleskine não estiver ali, nenhum guardanapo de padaria vai te salvar. Se a ideia for embora, pode não voltar nunca mais. E as ideias geniais andam exigentes, elas já não se deixam anotar em qualquer saquinho de pão, com qualquer caneta, a qualquer hora do dia.
Entrei na padaria outro dia e lá estava ele: um Moleskine, aberto, em cima de um balcão. Atrás tinha uma moça com uma caneta na mão, mas vejam bem, a moça aqui não importa. Porque não era a moça quem escrevia no Moleskine, era o Moleskine quem se deixava escrever.
Eu fiquei bem amiga desse caderninho (não exatamente o Moleskine, os meus sempre foram falsos, da Cícero Papelaria, mas são cópias MUITO fiéis). Carregava na bolsa e anotava toda e qualquer coisa interessante que me viesse na cabeça.
Muitas das ideias que o Fale Moleskine me deu viraram depois textos nesse blog. Mas nos últimos dois meses, o Fake Moleskine ficou aqui na mesa do computador, abandonado, cedendo seu lugar na bolsa, antes reservadas à expressão e criatividade, à coisas mais úteis no momento, tipo pomadas antiinflamatórias, livros do Hamlet abertos poucas vezes, roupas de ensaio e um caderno de anotações teóricas que ainda não tive coragem de reabrir.
Mas Fake Moleskine está de volta. Eu o abri ontem à noite, antes da sessão de cinema começar, e ele não me disse nada - embora eu pudesse sentir um traço de mágoa naquelas páginas sem pauta.
Você não foi embora? Que tipo de ideia incrível você espera de mim agora?
Perdão, Fake Moleskine. Espero que voltemos a ser grandes amigos em breve.
segunda-feira, março 14, 2011
segunda-feira, fevereiro 28, 2011
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
Monólogo
I
Você é bonito, eu disse (desde sempre). Sabia que eu sei um conto seu de cor? Faz muito, muito tempo que eu te conheço, mas você não, o que é uma pena. Ouvi dizer que você vai morar num apartamento no centro, não num daqueles charmosos, num daqueles pequenos mesmo, sem vista pra nada e com uma cozinha ridiculamente pequena. Me chama pra cozinhar lá um dia, eu faço uma massa, sei lá, a gente toma um vinho e todos os outros clichês. Acho que te vi mesmo, de verdade, uma vez só. Parece esquisito? Acho que nosso gosto musical não combina. Eu sei mesmo de cor aquele conto, eu li pela primeira vez quando tinha 16 anos, eu imprimi e guardei, eu lia lia lia o tempo todo. Eu realmente achava que você estava falando comigo, por isso decidi não interromper, nunca.
II
Ando olhando seus retratos. Procuro algo familiar, algo como uma tatuagem primitiva que signifique de algum jeito o meu nome. É possível que eu me apaixone. Eu vou passar uma noite no seu apartamento, vou andar descalça até a cozinha e tomar um belo gole de água fria, direto da garrafa. É possível que você se apaixone quando eu contar que escrevi algumas cartas pra você. E dizer que eu segui seus sinais de fumaça, anonimamente. Eu não vou sentir medo de dizer tudo isso. E você finalmente vai ler aquele conto pra mim.
III
Avise quando chegar. Não se esqueça de colocar na mala o meu presente. Lembra um dia na rodoviária daquela cidadezinha ao sul… Como era mesmo o nome? Você tomava um expresso e tinha acabado de acender um cigarro, então viu numa daquelas lojinhas cafonas um caderninho de anotações e comprou. Você lembra onde ele está? Depois chegou em casa e pensou que a sua namorada não ia gostar mesmo, e guardou. Era pra mim.
IV
Hoje olhei longamente uma frase sua. Só olhei. Ela não dizia nada de importante, mas ela era você, cada palavra um pedaço seu, uma coisa que saiu da sua cabeça, das suas mãos, da sua vida. Eu olhei tanto pra essa sua frase que quase me confundi toda dentro dela, mas você não sabe disso, você não me conhece. Pensei em escrever algo. Não adianta nada, pensei em seguida. Porque você não me conhece e uma frase minha precisaria dizer tanta coisa que não caberia numa frase, nem em muitas… Eu preciso ver você. E você precisa me ver.
Luana Vignon
Você é bonito, eu disse (desde sempre). Sabia que eu sei um conto seu de cor? Faz muito, muito tempo que eu te conheço, mas você não, o que é uma pena. Ouvi dizer que você vai morar num apartamento no centro, não num daqueles charmosos, num daqueles pequenos mesmo, sem vista pra nada e com uma cozinha ridiculamente pequena. Me chama pra cozinhar lá um dia, eu faço uma massa, sei lá, a gente toma um vinho e todos os outros clichês. Acho que te vi mesmo, de verdade, uma vez só. Parece esquisito? Acho que nosso gosto musical não combina. Eu sei mesmo de cor aquele conto, eu li pela primeira vez quando tinha 16 anos, eu imprimi e guardei, eu lia lia lia o tempo todo. Eu realmente achava que você estava falando comigo, por isso decidi não interromper, nunca.
II
Ando olhando seus retratos. Procuro algo familiar, algo como uma tatuagem primitiva que signifique de algum jeito o meu nome. É possível que eu me apaixone. Eu vou passar uma noite no seu apartamento, vou andar descalça até a cozinha e tomar um belo gole de água fria, direto da garrafa. É possível que você se apaixone quando eu contar que escrevi algumas cartas pra você. E dizer que eu segui seus sinais de fumaça, anonimamente. Eu não vou sentir medo de dizer tudo isso. E você finalmente vai ler aquele conto pra mim.
III
Avise quando chegar. Não se esqueça de colocar na mala o meu presente. Lembra um dia na rodoviária daquela cidadezinha ao sul… Como era mesmo o nome? Você tomava um expresso e tinha acabado de acender um cigarro, então viu numa daquelas lojinhas cafonas um caderninho de anotações e comprou. Você lembra onde ele está? Depois chegou em casa e pensou que a sua namorada não ia gostar mesmo, e guardou. Era pra mim.
IV
Hoje olhei longamente uma frase sua. Só olhei. Ela não dizia nada de importante, mas ela era você, cada palavra um pedaço seu, uma coisa que saiu da sua cabeça, das suas mãos, da sua vida. Eu olhei tanto pra essa sua frase que quase me confundi toda dentro dela, mas você não sabe disso, você não me conhece. Pensei em escrever algo. Não adianta nada, pensei em seguida. Porque você não me conhece e uma frase minha precisaria dizer tanta coisa que não caberia numa frase, nem em muitas… Eu preciso ver você. E você precisa me ver.
Luana Vignon
quarta-feira, fevereiro 23, 2011
O Filho do Ator: Papai, me conta uma história?
O Pai-Ator: Pode ser uma dramaturgia não linear de ações físicas não racionais construída colaborativamente com o intuito de instigar sensorialmente o espectador através não da identificação mas do estranhamento trazendo a possibilidade de múltiplas correlações imagem/som/texto e espaço/tempo/corpo?
Filho: ...
Pai-Ator: Desculpa, filho. História eu não sei.
FIM.
O Pai-Ator: Pode ser uma dramaturgia não linear de ações físicas não racionais construída colaborativamente com o intuito de instigar sensorialmente o espectador através não da identificação mas do estranhamento trazendo a possibilidade de múltiplas correlações imagem/som/texto e espaço/tempo/corpo?
Filho: ...
Pai-Ator: Desculpa, filho. História eu não sei.
FIM.
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
(...)
Schopenhauer entende que não existem "coisas", antes, existe uma só coisa que determina a existência de todas as outras ou ainda, uma só fonte de onde emanam todas as expressões objetivas de realidade. O próprio ser consciente, um homem, por exemplo, é uma objetivação dessa coisa-fonte-única que o filósofo identificou DOIS OLHOS VERDES como sendo vontade. Mesmo o corpo humano seria uma objetivação da vontade e a percepção física que temos de nós mesmos não se confunde com aquele nós que DOIS OLHOS VERDES percebe esse "nós mesmos".
Vontade - eis o princípio fundamental da Natureza, para Schopenhauer; porém, não Vontades individuais; não vontade DOIS OLHOS VERDES fragmentada em seres diversos. Sob a exuberante diversidade do mundo perceptível existiria uma força diretora única, uma vontade superior, "de caráter metafísico e presente igualmente na planta que nasce e cresce DOIS OLHOS VERDES e nas complexas ações humanas." (Rodrigues Torres Filho, 1980). A essência de todas DOIS OLHOS VERDES as coisas (as coisas em-si) seriam inacessíveis à razão ou ao estado de consciência normal. A mente, é muito mais ampla que a consciência ordinária - ou, o Ego. Na filosofia de Schopenhauer, DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES a consciência trabalha somente com percepções supericiais da mente que, de fato, se extende muito além no terreno do inconsciente, normalmente fechado ao conhecimento. Neste ponto, DOIS OLHOS VERDES Schopenhauer DOIS OLHOS VERDES antecipa as idéias de Freud, como reconheceu o próprio Pai da Psicanálise.
A vontade superior rege o macrocosmo; entretanto, analogicamente, DOIS OLHOS VERDES é a vontade inferior, do Ego, DOIS OLHOS VERDES que predomina no microcosmo. Essa vontade inferior é a vontade dos seres, em especial DOIS OLHOS VERDES dos homens. Schopenhauer é geralmente DOIS OLHOS VERDES apontado como o filósofo do pessimismo. Isso acontece DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES porque, no desenvolvimento de sua teoria sobre "o mundo como representação", a Vontade humana, sempre limitada pela percepção DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES enganosa, não é uma faculdade que pode ser exercida livremente; ao contrário, a Vontade DOIS OLHOS VERDES é uma força que o homem DOIS OLHOS VERDES comum não sabe controlar DOIS OLHOS VERDES e por isso, é controlado por ela. A Vontade deseducada DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES é apenas um querer irracional DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES movido por paixões inconscientes DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES e sempre não saciadas. É um "mal inerente à existência DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES do homem", fonte de dor DOIS OLHOS VERDES constante DOIS OLHOS VERDES pelos DOIS OLHOS VERDES anseios DOIS OLHOS VERDES intermitentes DOIS OLHOS VERDES que são a sua manifestação DOIS OLHOS VERDES(da Vontade DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES) porque não existe satisfação DOIS OLHOS VERDES durável. Todo prazer DOIS OLHOS VERDES é ponto de DOIS OLHOS VERDES partida para DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES novas aspirações e por isso, "viver é DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES sofrer DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES". DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOIS
Vontade - eis o princípio fundamental da Natureza, para Schopenhauer; porém, não Vontades individuais; não vontade DOIS OLHOS VERDES fragmentada em seres diversos. Sob a exuberante diversidade do mundo perceptível existiria uma força diretora única, uma vontade superior, "de caráter metafísico e presente igualmente na planta que nasce e cresce DOIS OLHOS VERDES e nas complexas ações humanas." (Rodrigues Torres Filho, 1980). A essência de todas DOIS OLHOS VERDES as coisas (as coisas em-si) seriam inacessíveis à razão ou ao estado de consciência normal. A mente, é muito mais ampla que a consciência ordinária - ou, o Ego. Na filosofia de Schopenhauer, DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES a consciência trabalha somente com percepções supericiais da mente que, de fato, se extende muito além no terreno do inconsciente, normalmente fechado ao conhecimento. Neste ponto, DOIS OLHOS VERDES Schopenhauer DOIS OLHOS VERDES antecipa as idéias de Freud, como reconheceu o próprio Pai da Psicanálise.
A vontade superior rege o macrocosmo; entretanto, analogicamente, DOIS OLHOS VERDES é a vontade inferior, do Ego, DOIS OLHOS VERDES que predomina no microcosmo. Essa vontade inferior é a vontade dos seres, em especial DOIS OLHOS VERDES dos homens. Schopenhauer é geralmente DOIS OLHOS VERDES apontado como o filósofo do pessimismo. Isso acontece DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES porque, no desenvolvimento de sua teoria sobre "o mundo como representação", a Vontade humana, sempre limitada pela percepção DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES enganosa, não é uma faculdade que pode ser exercida livremente; ao contrário, a Vontade DOIS OLHOS VERDES é uma força que o homem DOIS OLHOS VERDES comum não sabe controlar DOIS OLHOS VERDES e por isso, é controlado por ela. A Vontade deseducada DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES é apenas um querer irracional DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES movido por paixões inconscientes DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES e sempre não saciadas. É um "mal inerente à existência DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES do homem", fonte de dor DOIS OLHOS VERDES constante DOIS OLHOS VERDES pelos DOIS OLHOS VERDES anseios DOIS OLHOS VERDES intermitentes DOIS OLHOS VERDES que são a sua manifestação DOIS OLHOS VERDES(da Vontade DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES) porque não existe satisfação DOIS OLHOS VERDES durável. Todo prazer DOIS OLHOS VERDES é ponto de DOIS OLHOS VERDES partida para DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES novas aspirações e por isso, "viver é DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES sofrer DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES". DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOIS
quarta-feira, fevereiro 02, 2011
Como alguém que sabe que vai viajar no dia seguinte, arrumei a casa toda. Eu queria ter essa sensação de estar preparada. Enchi minha geladeira, fiz um bolo, preparei comida pra beliscar pelo caminho (ou eu podia deixar uma trilha de penne pelo caminho, uma coisa meio João e Maria, será?), roupa lavada, passada, comprei flores e enchi garrafas com elas e espalhei pela casa. Quero um canto quieto e confortável e conhecido pra quando eu tiver que voltar. Fiz minha mala. Coloquei lá uma coisinha ou outra que eu sei, mal deu pra encher uma necessaire. Coloquei uns livros de referência, não sei viver sem eles. Vou precisar comprar mais durante a viagem. Mais livros e mais coisas pra saber. Talvez pegue emprestado de alguém. Desses que escolheram (?) ir junto comigo. Resolvi ser precavida e coloquei bastante medo, em doses pequenas, pra ir usando pouco a pouco. Medo nunca é o suficiente. No meio da viagem ele sempre acaba e nós temos que renovar nosso estoque de medo.
Amanhã vou passar por essa porta com tsurus pendurados, pegar aquele carro cheio de bichos de pelúcia esquisitos e abrir a primeira página do livro mais comentado de todos os tempos, nessa viagem sem volta que eu escolhi fazer - que eu faria de qualquer jeito, mesmo as condições não sendo as melhores, mesmo o momento talvez não sendo o melhor, é quase uma viagem forçada, quase um exílio de mim mesma. Não há o que fazer.
Viajo e, quando voltar, veja o que sobrou.
Mas vou te escrever, sempre. Cartas sem remetente - se acaso eu esquecer... quem era mesmo que estava escrevendo? Destinatário, remetente, pra quê mesmo? Pra quê mesmo é que se escreve uma carta? O importante é o ato de escrever ou o importante é que, um dia, alguém leia? Pra que, afinal, você faz cada uma das coisas que você faz o tempo todo?
São 21:06 e bate um vento gelado pela janela. Ventinho de pós-chuva, sabe ventinho de pós-chuva no nono andar? Eu não sabia, mas agora eu sei.
Vamos ver o que mais eu vou saber daqui a um tempo.
terça-feira, janeiro 18, 2011
segunda-feira, janeiro 17, 2011
Eram os Deuses Roteiristas?
Eu às vezes tenho a impressão de que a minha vida é um roteiro de um filme. Que Deus escreveu, registrou, e depois não liberou os direitos de filmagem pra ninguém. De modo que eu sou só uma ideia num papel, até que boa, mas condenada a não ser produzida nunca.
Ou ainda: acho- tenho certeza- que você foi lá e comprou os direitos. Just in case, vai que um dia você quisesse filmar.
Só que você não quis.
sábado, janeiro 15, 2011
Pacote completo
Desse jeito assim, pago à vista, em dinheiro, e 10% de gorjeta dada de bom grado, é muito raro alguém comprar.
Los Hermanos - Último Romance
sexta-feira, janeiro 14, 2011
CENA 01
FILA DE SUPERMERCADO. NOITE.
Chegam dois meninos, aparentam 12 anos ou menos, obviamente moradores de rua. Olham babando para CADA UMA das barras de chocolate nas prateleiras. "Você comeria uma dessas sozinho?" "Acho que sim." "Eu também." Enfim se definem por uma delas. Colocam em cima do balcão do caixa junto com as moedas que carregam, tantas que fazem muito barulho. O moço do caixa, com a voz num tom automático: "Nota fiscal paulista?""O que é isso, tio?"
FIM.
quinta-feira, janeiro 06, 2011
It had taken us four hours to get to her house. Two of those were because Mr. Black had to convince me to get on the Staten Island Ferry. In addition to the fact that it was an obvious potential target, there had also been a ferry accident pretty recently, an in Stuff That Happened to Me I had pictures of people who had lost their arms and legs. Also, I don't like bodies of water. Or boats, particularly. Mr. Black asked me how I would feel in bed that night if I didn't get on the ferry. I told him, "Heavy boots, probably." "And how will you feel if you did?" "Like one hundred dollars." "So?" "So what about while I´m on the ferry? What if it sinks? What if someone pushes me off? What if it´s hit with a shoulder-fired missile? There won't be a tonight tonight." He said, "In which case you won't feel anything anyway." I thought about that.
So did I, Oskar. So did I.
terça-feira, janeiro 04, 2011
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