segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Prezado Mundo,

PREGUIÇA BICHO-DA-SEDA DO SENHOR.
Pela atenção, obrigada.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Monólogo

I

Você é bonito, eu disse (desde sempre). Sabia que eu sei um conto seu de cor? Faz muito, muito tempo que eu te conheço, mas você não, o que é uma pena. Ouvi dizer que você vai morar num apartamento no centro, não num daqueles charmosos, num daqueles pequenos mesmo, sem vista pra nada e com uma cozinha ridiculamente pequena. Me chama pra cozinhar lá um dia, eu faço uma massa, sei lá, a gente toma um vinho e todos os outros clichês. Acho que te vi mesmo, de verdade, uma vez só. Parece esquisito? Acho que nosso gosto musical não combina. Eu sei mesmo de cor aquele conto, eu li pela primeira vez quando tinha 16 anos, eu imprimi e guardei, eu lia lia lia o tempo todo. Eu realmente achava que você estava falando comigo, por isso decidi não interromper, nunca.

II

Ando olhando seus retratos. Procuro algo familiar, algo como uma tatuagem primitiva que signifique de algum jeito o meu nome. É possível que eu me apaixone. Eu vou passar uma noite no seu apartamento, vou andar descalça até a cozinha e tomar um belo gole de água fria, direto da garrafa. É possível que você se apaixone quando eu contar que escrevi algumas cartas pra você. E dizer que eu segui seus sinais de fumaça, anonimamente. Eu não vou sentir medo de dizer tudo isso. E você finalmente vai ler aquele conto pra mim.

III

Avise quando chegar. Não se esqueça de colocar na mala o meu presente. Lembra um dia na rodoviária daquela cidadezinha ao sul… Como era mesmo o nome? Você tomava um expresso e tinha acabado de acender um cigarro, então viu numa daquelas lojinhas cafonas um caderninho de anotações e comprou. Você lembra onde ele está? Depois chegou em casa e pensou que a sua namorada não ia gostar mesmo, e guardou. Era pra mim.

IV

Hoje olhei longamente uma frase sua. Só olhei. Ela não dizia nada de importante, mas ela era você, cada palavra um pedaço seu, uma coisa que saiu da sua cabeça, das suas mãos, da sua vida. Eu olhei tanto pra essa sua frase que quase me confundi toda dentro dela, mas você não sabe disso, você não me conhece. Pensei em escrever algo. Não adianta nada, pensei em seguida. Porque você não me conhece e uma frase minha precisaria dizer tanta coisa que não caberia numa frase, nem em muitas… Eu preciso ver você. E você precisa me ver.

Luana Vignon

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

O Filho do Ator: Papai, me conta uma história?
O Pai-Ator: Pode ser uma dramaturgia não linear de ações físicas não racionais construída colaborativamente com o intuito de instigar sensorialmente o espectador através não da identificação mas do estranhamento trazendo a possibilidade de múltiplas correlações imagem/som/texto e espaço/tempo/corpo?
Filho: ...
Pai-Ator: Desculpa, filho. História eu não sei.
FIM.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

(...)

Schopenhauer entende que não existem "coisas", antes, existe uma só coisa que determina a existência de todas as outras ou ainda, uma só fonte de onde emanam todas as expressões objetivas de realidade. O próprio ser consciente, um homem, por exemplo, é uma objetivação dessa coisa-fonte-única que o filósofo identificou DOIS OLHOS VERDES como sendo vontade. Mesmo o corpo humano seria uma objetivação da vontade e a percepção física que temos de nós mesmos não se confunde com aquele nós que DOIS OLHOS VERDES percebe esse "nós mesmos".
Vontade - eis o princípio fundamental da Natureza, para Schopenhauer; porém, não Vontades individuais; não vontade DOIS OLHOS VERDES fragmentada em seres diversos. Sob a exuberante diversidade do mundo perceptível existiria uma força diretora única, uma vontade superior, "de caráter metafísico e presente igualmente na planta que nasce e cresce DOIS OLHOS VERDES e nas complexas ações humanas." (Rodrigues Torres Filho, 1980). A essência de todas DOIS OLHOS VERDES as coisas (as coisas em-si) seriam inacessíveis à razão ou ao estado de consciência normal. A mente, é muito mais ampla que a consciência ordinária - ou, o Ego. Na filosofia de Schopenhauer, DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES a consciência trabalha somente com percepções supericiais da mente que, de fato, se extende muito além no terreno do inconsciente, normalmente fechado ao conhecimento. Neste ponto, DOIS OLHOS VERDES Schopenhauer DOIS OLHOS VERDES antecipa as idéias de Freud, como reconheceu o próprio Pai da Psicanálise.
A vontade superior rege o macrocosmo; entretanto, analogicamente, DOIS OLHOS VERDES é a vontade inferior, do Ego, DOIS OLHOS VERDES que predomina no microcosmo. Essa vontade inferior é a vontade dos seres, em especial DOIS OLHOS VERDES dos homens. Schopenhauer é geralmente DOIS OLHOS VERDES apontado como o filósofo do pessimismo. Isso acontece DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES porque, no desenvolvimento de sua teoria sobre "o mundo como representação", a Vontade humana, sempre limitada pela percepção DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES enganosa, não é uma faculdade que pode ser exercida livremente; ao contrário, a Vontade DOIS OLHOS VERDES é uma força que o homem DOIS OLHOS VERDES comum não sabe controlar DOIS OLHOS VERDES e por isso, é controlado por ela. A Vontade deseducada DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES é apenas um querer irracional DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES movido por paixões inconscientes DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES e sempre não saciadas. É um "mal inerente à existência DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES do homem", fonte de dor DOIS OLHOS VERDES constante DOIS OLHOS VERDES pelos DOIS OLHOS VERDES anseios DOIS OLHOS VERDES intermitentes DOIS OLHOS VERDES que são a sua manifestação DOIS OLHOS VERDES(da Vontade DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES) porque não existe satisfação DOIS OLHOS VERDES durável. Todo prazer DOIS OLHOS VERDES é ponto de DOIS OLHOS VERDES partida para DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES novas aspirações e por isso, "viver é DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES sofrer DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES". DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDES DOIS OLHOS VERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOISOLHOSVERDESDOIS

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Como alguém que sabe que vai viajar no dia seguinte, arrumei a casa toda. Eu queria ter essa sensação de estar preparada. Enchi minha geladeira, fiz um bolo, preparei comida pra beliscar pelo caminho (ou eu podia deixar uma trilha de penne pelo caminho, uma coisa meio João e Maria, será?), roupa lavada, passada, comprei flores e enchi garrafas com elas e espalhei pela casa. Quero um canto quieto e confortável e conhecido pra quando eu tiver que voltar. Fiz minha mala. Coloquei lá uma coisinha ou outra que eu sei, mal deu pra encher uma necessaire. Coloquei uns livros de referência, não sei viver sem eles. Vou precisar comprar mais durante a viagem. Mais livros e mais coisas pra saber. Talvez pegue emprestado de alguém. Desses que escolheram (?) ir junto comigo. Resolvi ser precavida e coloquei bastante medo, em doses pequenas, pra ir usando pouco a pouco. Medo nunca é o suficiente. No meio da viagem ele sempre acaba e nós temos que renovar nosso estoque de medo.
Amanhã vou passar por essa porta com tsurus pendurados, pegar aquele carro cheio de bichos de pelúcia esquisitos e abrir a primeira página do livro mais comentado de todos os tempos, nessa viagem sem volta que eu escolhi fazer - que eu faria de qualquer jeito, mesmo as condições não sendo as melhores, mesmo o momento talvez não sendo o melhor, é quase uma viagem forçada, quase um exílio de mim mesma. Não há o que fazer.
Viajo e, quando voltar, veja o que sobrou.
Mas vou te escrever, sempre. Cartas sem remetente - se acaso eu esquecer... quem era mesmo que estava escrevendo? Destinatário, remetente, pra quê mesmo? Pra quê mesmo é que se escreve uma carta? O importante é o ato de escrever ou o importante é que, um dia, alguém leia? Pra que, afinal, você faz cada uma das coisas que você faz o tempo todo?
São 21:06 e bate um vento gelado pela janela. Ventinho de pós-chuva, sabe ventinho de pós-chuva no nono andar? Eu não sabia, mas agora eu sei.
Vamos ver o que mais eu vou saber daqui a um tempo.