Abro a janela, ensaio escrever alguma coisa, fecho a janela.
Fico pensando quantos textos bons poderiam ter se tornado realidade pelos meus dedos, mas não - meus dedos estavam ocupados demais - meu cérebro é relapso demais pra guardar os textos sozinho - e ele também não anda lá muito sossegado.
Declarei aberta a temporada de organização - gavetas, documentos, prateleiras, roupas pra doar, papéis pro lixo, embalagens vazias, remédios vencidos. Não vai acabar nunca. Vou renovar as doenças também, as preocupações, as turmas da escola, o plano da academia, o contrato do seguro e as inseguranças.
Contrata pintor, escolhe cor de tinta, faz orçamento de armário pra cozinha, procura estacionamento 24 horas com plano mensal, tira móvel do lugar - não sobra tempo pra admitir que, no fundo, estou morrendo de medo. Mas não tem problema - o medo sempre esteve comigo, e isso nunca quis dizer nada. A expectativa está comigo também, e acreditem: ela é das melhores.
Abro a janela - a do apartamento - o outro - já sem cortinas - novos ares entram.
Que entrem e fiquem à vontade.